‘Surf’ sobre rodas, Longboard faz a cabeça de esportistas de Piracicaba

Descer uma ladeira a 120 km/h dentro de um carro, apesar da segurança, já dá aquele friozinho na barriga e faz pensar o que uma batida pode ocasionar. Agora imagina alcançar esta mesma velocidade em um skate. “Você se sente maior do que é realmente. É uma sensação indescritível, de extrema liberdade”, conta Andrew Guimel Sá Dassie, videomaker e skatista nas horas vagas.

Não é de qualquer tipo de skate que estamos falando. O assunto aqui é o Longboard, modalidade que cresce em todo o país e consiste em plataformas, ou shapes, maiores do que 38 polegadas, medida comum entre os usados para manobras em pistas ou halfs. “Além de serem maiores do que o normal, eles são feitos para andar em ruas, descer ladeiras, porque dão mais estabilidade”, afirma Alexandre Gaiad, fotógrafo e um dos precursores do esporte na cidade de Piracicaba.

Confira galeria de fotos do Longboard

Ele e mais 39 adoradores da modalidade criaram uma página no Facebook, os 019 Caipiras Longboard , para que todos possam marcar encontros. “Eu ia para alguns pontos e sempre encontrava pessoas andando, então criei este grupo. Hoje temos pessoas de Americana e Limeira também e sempre fazemos excursões grandes para andar de long”, conta Gaiad. O grupo é aberto e não precisa saber andar ou ter um skate para poder brincar. Já são 205 participantes.“O legal é que o pessoal que sabe mais ajuda quem está começando. E não tendo um long, sempre tem aquele que leva mais de um. Nada é empecilho para a gente”.


Algumas ruas já foram escolhidas como preferidas. Condomínios fechados e espaços pouco movimentados são os melhores pontos para evitar acidentes. O grupo se reúne nas três cidades, revezando para que todos os participantes se unam em torno do esporte. A descida preferida é da Estrada do Boiadeiro, em Piracicaba, também apelidada “carinhosamente” de Ladeira da Morte.

“Ela é a mais lisa e íngreme. O pessoal chega até a 100km/h. Muita gente de São Paulo e outras cidades vêm para cá somente para descer nela. Esse é um dos motivos de querermos coloca-lá no circuito brasileiro. Estamos pedindo ajuda para a prefeitura para que ano que vem façamos a primeira competição nesta ladeira”, conta o fotógrafo.

Promessas

Do grupo 019 Caipiras, alguns despontam. É o caso de Dassie. A falta de patrocínios não impediU que o skatista começasse a competir profissionalmente, como em Teutônia, no Rio Grande do Sul, onde é realizada uma prova do Circuito Mundial de Longboard.  “Eram 130 concorrentes, depois diminuiu para 60, mas eu cai e tive que abandonar a competição”,  explica Dassie.



Sem verba, é impossível conseguir disputar todo o circuito. Para se ter uma ideia, o valor de um longboard para disputa é de R$ 1,5 mil. “Temos também a manutenção, que aumenta este custo. Por exemplo, em uma pista com bastante curva, gasto um jogo de rodinhas. Lá se vão R$ 200”, afirma o skatista.

Modalidades

Nos torneios, os competidores praticam o longboard speed. O mínimo de velocidade para que seja considerada a modalidade é de 60km/h, mas em média os competidores atingem 100 km/h. Quem chega primeiro ao final ganha.  Existe também a modalidade freeride, que é para aqueles que gostam mais de dar manobras.

“Essa modalidade é mais para slides, que é quando o skatista da um cavalo de pau com o skate. A ideia é aproveitar toda a ladeira para dar manobras. Soma mais pontos quem fizer as manobras mais difíceis”, explica Alexandre Gaiad.

O mais difundido estilo é o longboard classic, que são os skates de 52 polegadas usados para passear e “surfar” descidas a baixo. “É a forma sem competição do esporte. Só mais para curtir a descida, a paisagem e a adrenalina do momento”, conta Gaiad.

Tombos

Mas não é só de aventura e adrenalina que vivem os praticantes do longboard. Ralados e ossos quebrados fazem parte da rotina desses skatistas.  “Já me machuquei feio andando de long. Cheguei a quebrar quatro costelas em uma queda”, relembra o fotógrafo.

Por isso, a proteção é bastante importante. Luvas, cotoveleiras, joelheiras e capacete são elementos básicos para a prática deste esporte. “Não deixamos que ninguém ande com a gente sem proteção. Você pode estar parado, subir no skate, escorregar e bater a cabeça. Não é questão de habilidade, pode acontecer com todo mundo. É questão de segurança”, explica Gaiad.

Para os que andam em altas velocidades, também é aconselhado o uso de macacão de couro. Para esses loucos por adrenalina, um tombo é só mais motivo para levantar e andar de novo. “Já quebrei o tornozelo, desloquei o ombro. Ralei tanto que nem sei o que é pele o que é cicatriz. Mas quando caio, a única coisa que penso é quanto tempo vou ter que ficar parado sem andar. Nem sinto dor”, completa Dassie.

Fonte: EpPiracicaba







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