De poucas palavras, mas sem meias palavras. Inegavelmente política, a primeira mulher a participar da ala dos compositores da Estação Primeira de Mangueira fez em março deste ano sua estreia na Assembleia Legislativa. “Não imaginei que as coisas fossem tão lentas nesse meio. Estou tendo que ser paciente”, desabafa a Deputada Estadual Leci Brandão, que não abandonou os palcos e a música em favor do plenário. E anuncia: até o fim do ano, espera gravar um DVD com inéditas e sucessos. Estes últimos poderão ser conferidos pelo público de Encontra Piracicaba nesta quinta (21), no Clube dos Saudosistas, às 21h.
A musicista deu sua generosa contribuição para a história do samba e, no início deste mês, recebeu pelo telefone a notícia de que agora a sua história vai dar samba. Em 2012, ela empresta sua biografia à escola paulistana Acadêmicos do Tatuapé, que canta na avenida os 36 anos de carreira de Leci. “Eu até chorei (quando soube). Estou feliz e extremamente surpresa”, diz. O que ela espera disso tudo? “Um carnaval com dignidade. Só isso”.
Apesar de o último CD ter sido lançado em 2008, Leci jura que não parou de produzir. Como quem faz questão de se justificar, ela diz: “Eu componho sempre. Nunca parei”. O último trabalho, “Eu e o samba”, traz a participação daquela que Leci aponta como a grande sambista da atualidade, Mart’nália. “Quem faz samba atualmente é Mant’nália e Diogo Nogueira. Eu até ouço outras coisas novas, mas apontados por mim, Leci, são só esses dois”.
E as críticas sobre o cenário atual da música não cessam por aí. A combativa Leci, que sempre teve como marca a utilização dos temas sociais como matéria-prima para suas composições, mostra-se insatisfeita também com a carência de artistas que utilizem a música para levantar suas bandeiras. “Ultimamente não vejo ninguém falar de problema nas canções. Ninguém faz música engajada no Brasil hoje. Todo mundo quer só cantar o amor. É importante falar de amor e coisas boas, mas o tema social não pode ficar de lado”.
Eleita pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B), sigla à qual ela só se filiou no ano passado quando foi convidada a concorrer pela vaga na assembleia paulista, Leci diz que nunca passou pelo pensamento dela a ideia de assumir um cargo público. Apesar de compor a legenda de ideais marxistas, a sambista se esquiva do rótulo de socialista. “Mas a minha vida inteira eu sempre subi no palco para defender partidos de bandeira vermelha. Sempre cantei para os partidos de esquerda”.
A promessa é de que na apresentação em Piracicaba, a política também esteja presente. “Não vou deixar de cantar a mulher, os negros e pobres. Cantar contra a violênca”.
Além do viés político, Leci lembra que a peculiaridade da sua apresentação é não ter um repertório definido. “São muitas músicas, então fazemos um rodízio a cada apresentação. Até para os músicos não enjoarem. A gente está junto há 13 anos”.
Mas os sucessos Zé do Caroço, Perdoa e Eu só quero te namorar, ela assegura, estão garantidos na apresentação. Assim como a homenagem a grandes nomes do samba, como Candeia, Jovelina Pérola Negra e Dona Ivone Lara.
“Espero levar alegria às pessoas. Desde que comecei a carreira, eu canto nesta cidade. E o público sempre foi muito receptivo comigo”, diz.
Fonte: EpCampinas