Pelo menos 2 mil trabalhadores da construção civil de Piracicaba e de municípios da região são totalmente analfabetos, segundo uma estimativa do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário (SintiCompi). O número representa 14% do total de 15 mil funcionários do setor. Destes, 8,1 mil são semi-analfabetos, ainda de acordo com levantamento feito em empresas da região.
Falta de segurança na cidade de Piracicaba
Segundo o tesoureiro do sindicato Edson Batista dos Santos, há vários problemas que são gerados devido à deficiência educacional dos trabalhadores da construção civil. “Na questão da segurança, um trabalhador corre o risco de se machucar ao não ler um aviso sobre perigo na obra, por exemplo”, afirmou.
Ainda de acordo com Santos, é preciso que a situação seja regularizada antes que aconteçam acidentes. “Precisamos alfabetizar estes trabalhadores. É ideal tanto para as empresas quanto para os funcionários, pois isso pode melhorar o rendimento profissional”, comentou.
Problemas na leitura
O pedreiro Roberto Pinheiro Xavier, de 35 anos, funcionário de uma obra no Distrito Industrial de Piracicaba, é semi-analfabeto. Morador da cidade há duas décadas, Xavier estudou apenas até a terceira série, atual quarto ano, do ensino fundamental. Ele diz que tem muitas dificuldades no trabalho devido à falta de estudo. “Eu até consigo ler as coisas, mas tenho problema para entender o que está escrito”, contou.
Xavier disse que só parou de estudar pois a unidade educacional, na ocasião, ficava muito longe de casa. “Morava em Minas Gerais e a escola ficava há 12 quilômetros de distância. Era inviável. Um tempo depois mudei para Piracicaba, mas aí já estava trabalhando e não tinha tempo”, lamentou o funcionário.
Alfabetização dos trabalhadores
O sindicato tem um projeto de alfabetização de trabalhadores em canteiros de obras, que será desenvolvido em parceria com a Prefeitura de Piracicaba e a Associação das Construtoras de Piracicaba (Ascopi), com início em março.
Neste projeto, cujas salas terão no máximo 25 alunos, os trabalhadores dedicarão dois dias da semana, uma hora por dia para estudo. As empresas doarão uma hora de trabalho, totalizando duas horas na sala de aula, e a Prefeitura coordenará a parte pedagógica. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) fornecerá todo material didático e os professores.
A proposta é de que sejam montadas turmas com aulas na própria sede do sindicato, para atender grupos pequenos de diversas construtoras. Neste caso, as aulas serão das 17h às 19h, com as empresas liberando os trabalhadores uma hora antes, ou seja, às 16h. Já em grandes obras, que contam com grupo suficiente para montar uma sala, as aulas serão dadas no próprio canteiro de obras, logo no início da jornada de trabalho.
Fonte: G1